Ansiedade e luto não elaborado: o que a psicanálise pode revelar
Nem toda ansiedade tem uma causa óbvia. Às vezes, ela é o sinal de algo mais profundo: um luto que não pode ser vivido.
Na psicanálise, entendemos o luto como um processo psíquico necessário. Quando ele é evitado — por falta de tempo, apoio ou até por defesa emocional — a dor não desaparece. Ela pode retornar em forma de ansiedade, insônia ou crises aparentemente “sem motivo”.
O caso de Marina (fictício)
Marina, 35 anos, chegou à análise com sintomas de ansiedade. Relatava agitação, dificuldade para respirar e pensamentos acelerados. Aos poucos, revelou que esses sintomas começaram um ano após a morte do pai — uma perda que ela “não teve tempo” de viver. Mergulhou no trabalho e evitou sentir.
Com a escuta analítica, Marina começou a acessar essa dor adormecida. Chorou, relembrou, elaborou. A ansiedade, antes sem explicação, começou a fazer sentido: era o luto pedindo passagem.
A escuta que transforma
Na psicanálise, não tratamos apenas o sintoma — escutamos o que ele quer dizer. Quando há espaço para simbolizar o que foi perdido, a ansiedade pode diminuir. Não porque foi reprimida, mas porque foi compreendida.
Se você sente uma angústia que não sabe de onde vem, talvez haja uma perda aí que ainda precisa ser vivida. E é possível fazer isso, com cuidado e tempo.
Quando a Ansiedade Grita no Corpo
O corpo fala. Às vezes, antes mesmo que possamos pensar. Na ansiedade, o corpo pode ser o primeiro a alertar que algo está errado: insônia, tremores, falta de ar, palpitações.
Esses sintomas, embora desconfortáveis, são também formas de expressão.
O caso de Leandro (fictício)
Leandro, 33 anos, procurou análise depois de diversas idas ao pronto-socorro com crises respiratórias. Exames normais, diagnóstico: ansiedade.
Durante as sessões, Leandro falou sobre sua infância marcada por violência doméstica. Sempre dizia: “Nunca chorei na frente do meu pai. Tinha que ser forte.” A força virou armadura, e a emoção ficou presa no corpo.
Aos poucos, Leandro começou a dar nome ao que sentia. Chorou, se permitiu sentir medo, falou de traumas. E o corpo, antes sufocado, começou a respirar melhor.
O que o corpo não esquece, a psicanálise ajuda a lembrar
Quando a palavra encontra lugar, o corpo pode, enfim, descansar. Escutar o sintoma é também escutar a história que ele carrega.
Ansiedade e Procrastinação: Um Paradoxo Comum
É comum que pessoas ansiosas também sofram com procrastinação. Parece contraditório — mas tem sentido: evitar uma tarefa pode ser um jeito inconsciente de evitar o fracasso.
O caso de Rafael (fictício)
Rafael, 31 anos, procurou análise dizendo que era preguiçoso. Tinha projetos, ideias, planos — mas adiava tudo. Quando se aproximava um prazo, travava. “Me odeio por isso”, dizia.
Nas sessões, surgiu a figura de um pai extremamente crítico. “Nada do que eu fazia era bom o suficiente.” Rafael percebeu que adiar era, na verdade, uma forma de evitar o julgamento. Se não começasse, não corria o risco de fracassar.
Ao compreender essa lógica, começou a experimentar pequenas ações, sem tanta exigência. O movimento veio junto com o acolhimento de sua história.
Procrastinar não é fracasso — é proteção
A análise permite transformar o adiamento em ação, não pela cobrança, mas pela escuta. Ao se libertar da crítica interna, o sujeito pode, enfim, criar.
A Ansiedade Como Tentativa de Controle
A ansiedade costuma andar de mãos dadas com o desejo de controlar tudo. É como se o sujeito vivesse no futuro, tentando prever cada passo para evitar qualquer sofrimento.
Mas essa tentativa de controle absoluto pode esconder uma angústia mais antiga: o medo do desamparo.
O caso de Luíza (fictício)
Luíza, 38 anos, era engenheira e se dizia “viciada em planejamento”. Tinha listas para tudo, sofria com imprevistos e se sentia ansioso sempre que algo saía do roteiro. Em análise, emergiu a história de sua infância com pais ausentes e instáveis. Ela aprendeu, desde cedo, que “precisava dar conta de tudo sozinha”.
Ao compreender que sua obsessão por controle era, na verdade, uma defesa contra o medo de perder o chão, Luíza começou a construir uma nova forma de lidar com a vida. A ansiedade não desapareceu da noite para o dia, mas deixou de ser uma prisão.
Nem tudo pode ser controlado — e tudo bem
A análise ajuda a perceber que viver envolve riscos, perdas e surpresas. Ao aceitar isso, podemos respirar com mais leveza e dar espaço ao presente, sem precisar antecipar todos os desfechos.